Já tive oportunidade neste espaço de falar sobre o Trados e volto hoje ao tema. Não será uma segunda edição do «manual» que aqui deixei da última vez, mas uma breve análise ao que as novas versões do programa têm apresentado aos seus utilizadores. Escrevo este artigo porque dei conta, transitando do SDL Trados 2014 para a versão 2017 e informando-me sobre as novidades da atualização 2019, do real impacto que estas atualizações têm no meu trabalho diário e porque o seu custo é considerável.
O meu primeiro contacto com ferramentas de tradução assistida a computador foi em 2013 e a primeira versão do SDL Trados com que trabalhei foi a 2014, uma ferramenta complexa e ainda com muitos pontos a melhorar, mas polida a nível de funcionalidades e interface. Bem sei, conforme colegas que já andam nestas andanças há muitos mais anos me relembram, que estamos perante um enorme avanço face às versões que eram usadas no início da década. Se tal é verdade, parece que a tendência evolutiva abrandou.
A versão 2017 foi anunciada com três pontos fortes: a nova plataforma GroupShare (para facilitar o trabalho em equipa, dando espaço de servidor para memórias e projetos), o sistema upLIFT (que permite trabalhar melhor fuzzy matches e fragmentos de texto) e o motor de tradução automática AdaptiveMT (associado ao serviço SDL Language Cloud Service), lançado com um número limitado de pares de línguas (nenhum incluía a língua portuguesa como língua de partida ou chegada). Mais de um ano a trabalhar com a versão 2017 enquanto tradutor freelance, considero que muito pouco melhorou e algumas coisas pioraram. Começando pelo melhor: as alterações na interface, embora subtis, são relevantes e melhoraram a experiência com o programa, e o sistema upLIFT é efetivamente o que promete ser – uma forma mais prática de trabalharmos os fuzzy matches que nos faz poupar tempo e que popula imediatamente o segmento. Enquanto utilizador freelance, o GroupShare só será útil se alguma empresa com que trabalhe o usar e o AdaptiveMT não tem ainda aplicação para quem trabalha com a língua portuguesa. Além disso, imagino que ainda esteja em fase de adaptação, tal qual o mercado em relação à tradução automática. Quanto ao pior: o programa teima em persistir com erros na criação de projetos, na atribuição de memórias de tradução e a pôr os projetos em pastas que não as que indicamos. Várias pequenas correções depois, o problema mantém-se e a solução oficial, publicada nos fóruns, passa por apagar pastas do programa que estão dentro de outras pastas ocultas, não impedindo que o problema reapareça.
Avançamos dois anos e em abril, é anunciada a versão 2019. A publicação nos fóruns da ProZ por parte de um representante da SDL promete o seguinte, e cito:
- Experience instant access to everything
- Experience expert guidance on-demand
- Experience effortless project creation
- Experience even higher quality
Mais, melhor, maior… E na prática? Vejam. O assistente de criação de projetos foi repensado, é agora mais simples adicionar ficheiros a projetos, o QA Checker foi melhorado e pouco mais. Muita parra…
Nas últimas duas décadas, todos os dados apontam, e o mesmo foi reforçado na apresentação do estudo do mercado português da APET no passado dia 15, para um domínio claro da SDL no mercado das ferramentas de tradução e não há um concorrente que a ameace seriamente. Talvez seja esta hegemonia que faz com que atualizações tão redundantes sejam vendidas aos valores atuais (o preço da atualização do SDL Trados Freelance 2017 para 2019 na HCR, o revendedor oficial da SDL em Portugal, é de 197 €), preço semelhante ao praticado para a atualização da versão 2014 para a versão 2017, o que me deixa a pensar se não estamos perante uma transição do modelo de distribuição para uma espécie de subscrição. Afinal de contas, e considerando o intervalo de dois anos que as duas últimas atualizações tiveram, o custo destas pode resumir-se aproximadamente a 8 € por mês, idêntico ao praticado por várias empresas da indústria tecnológica.
Quero deixar claro que não podia aconselhar mais a utilização do Trados. Considero também que as atualizações lançadas são importantes e que gradualmente vão melhorando o programa, e isto também vale para as atualizações gratuitas que são lançadas para cada versão (o Trados 2017 teve duas, as chamadas Service Releases), cada vez mais frequentes. E é bom relembrar que é esperado e exigido que trabalhemos com este programa pela maioria dos clientes. Juntamente com um bom computador e bons recursos linguísticos, vejo o Trados como o melhor investimento para novos tradutores técnicos e, claro, se não têm o programa, aconselho a compra da última versão disponível. No entanto, e tendo já uma versão recente, também não me parece necessário nem vantajoso adquirir todas as novas versões lançadas. Considerando tudo o que a SDL nos mostrou e as provas que tem dado, o Trados 2017 vai servir-me bem enquanto espero pelo anúncio da provável versão 2021.
Já usaram as funcionalidades GroupShare ou AdaptiveMT e consideram-nas uma mais-valia para o programa e para o vosso trabalho diário? E qual é a vossa opinião sobre as mais recentes versões do Trados? Não deixem de partilhar a vossa opinião.
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